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Lucarocas, a Arte de Ser
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QUANDO A PLEBE CITO

QUANDO A PLEBE CITO
                                   Lucarocas

Ser plebeu nesse país
É padecer na pobreza
Carregando a cicatriz
De tudo quanto é rudeza
É viver sendo empregado
Pelo patrão maltratado
Lhe aumentando o sofrer
Se trabalha o mês inteiro
Recebe só o dinheiro
Que pouco dá pra comer.

Se acaso um emprego consegue
Ao lado de certo nobre
Humilhação lhe persegue
E é chamado de “pobre”
Recebe toda pilhéria
Pelo estado de miséria
Que lhe acompanha na lida
Vai sendo discriminado
E vai ficando jogado
Amargurado da vida.

Se por capricho da sorte
Cair numa tentação
Lhe designam logo a morte
Em forma de punição
Enchem seu corpo de peia
Na sela de uma cadeia
Pra ele não mais errar
Lhe criam todo defeito
Buscando de qualquer jeito
Forma pra lhe incriminar.

Se em alguma ocasião
Houver um certo delito
Tiver outro cidadão
Envolvido no conflito
De certo que o mais pobre
Vai pagar pelo que é nobre
Pois aqui nesse país
Pobre é quem mais leva peia
Rico não vai pra cadeia
E se safa bem feliz.

Se um cidadão esforçado
Da miséria quer sair
Labuta de todo lado
Para poder resistir
Toda forma de opressão
De praga e humilhação
Que rogam em desatino
Tem que lutar contra todos
Para sair dos engodos
Que botam no seu destino.

Se agoniza doente
Na cama de um hospital
O pobre é como indigente
Que sofre de todo mal
E cuidar-lhe não convém
Pois lucros não se obtêm
Para esse pobre cuidar
Pois na saúde o sistema
Só socorre sem problema
A alguém que pode pagar.

Quando o grão é produzido
Nos campos da agricultura
O pobre é quem tem sofrido
Na pena da escravatura
E o patrão nunca reparte
Ficando com a maior parte
De toda a sua colheita
E o pobre sem ter ação
Mais enriquece o patrão
Quando essa partilha é feita.

Quando a lei é formulada
Pela cúpula do poder
Ela traz sempre uma jogada
Para alguém enriquecer
Mas pouca gente percebe
Que sobre os ombros da plebe
Vem o fardo mais pesado
A minoria enriquece
Enquanto a massa padece
Por ter o direito tomado.

Se criam algum imposto
Por causa dos orçamentos
Isso é um assunto proposto
Por força de argumentos
Que por manipulação
Deixa mais pobre a nação
E explora o trabalhador
Que tanto imposto já paga
Pois a miséria o esmaga
Num regime ditador.

Quando a plebe quer sonhar
Em ter uma moradia
Vem um plano desmanchar
Com toda a sua utopia
Pois no regime existente
Ser pobre não é ser gente
E não merece respeito
E só goza de conforto
Quando já estiver morto
Com uma laje sobre o peito.

Dos poderes da elite
O vulgo não se aproxima
Pois o rico não permite
O pobre no andar de cima
Para não se misturar
Cada um em seu lugar
É assim que é programado
O pobre fica sofrendo
Olhando pra cima e vendo
O quanto é discriminado.

O pobre só tem direito
Aos poderes da oração
Pois Deus lhe tira o defeito
Lhe dá paz ao coração
E no encontro carnal
No seu gozo conjugal
Pobre faz o seu xodó
Pois em termo de prazer
Rico e pobre é só fazer
Que o prazer é sempre um só.

Mas quando a plebe cito
Como exemplo de verdade
É porque nela acredito
Que exista boa vontade
Pra mudar de direção
Lutar contra a opressão
E ditar o seu valor
Mostrar para essa nobreza
Que a força da pobreza
Tem poder libertador.

Se a união de um povo
For feita com consciência
Se constrói um país novo
De caráter e de decência
Se tira os exploradores
Que são vermes sugadores
Causando só desenganos
Para botar no poder
Aquele que possa ter
Respeito aos seres humanos.

E quando o povo escolher
Alguém para governar
Tem antes que conhecer
A forma de ele atuar
Ver se tem honestidade
O respeito à liberdade
Sem abusar do poder
Para que o povo tenha
Na vida que desempenha
Gosto melhor de viver.

E na hora de escolher
Em qualquer ato que for
Não pode o povo temer
A força do opressor
Tem que mostrar que a luta
É de quem traz na conduta
O sangue de um guerreiro
Lutar pelo seu direito
Adquirindo o respeito
De cidadão brasileiro.

Fortaleza, março – 1991.
Lucarocas
Enviado por Lucarocas em 05/04/2012
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